Existem regras em um processo criativo?

No dia 14/12/2018, aconteceu a primeira atividade pública do projeto ON, a palestra "Processo Criativo em Dramaturgia", no Museu Casarão Pau Preto, em Indaiatuba/SP. A palestra buscou traçar algumas diretrizes do que pode ser um processo criativo em dramaturgia, evitando qualquer fechamento e criação de regras, mas enfatizando que o processo criativo é também uma "criação" de cada artista e que está intimamente ligado ao indivíduo artista e suas relações consigo mesmo e com o mundo com o qual ele se relaciona. 

A partir de sua experiência pessoal e da citação de importantes artistas e pensadores, Mazieri foi discutindo com os presentes acerca do processo criativo e de como esse processo está inevitavelmente vinculado aos anseios e objetivos do artista, bem como sua visão sobre o que é a arte e qual o lugar da arte no mundo atual. Assim, cada artista vai encontrar as maneiras de dar forma às suas ideias, considerando aquilo que potencializa a sua arte.




Encarar o processo criativo como um conjunto de regras a ser seguido é um risco. A arte contemporânea como um todo tem a característica de quebrar com as regras pré-estabelecidas das linguagens dominantes, fazendo com que cada artista seja o responsável pela criação de suas próprias regras, de sua própria linguagem. A hibridez é constante e o percurso para se chegar a obra é incerto e aberto para influências vindas de muitas e diferentes direções. Faz se necessário compreender a si mesmo em relação a seu trabalho artístico.




Em dois dos exemplos usados na palestra, o cineasta Andrei Tarkovski e o pintor Kazuaki Tanahashi, percebe-se como os processos criativos podem variar, sem deixar de lado sua eficiência. Há quem prefira processos "autocentrados", em que o artista se recolhe em si mesmo para extrair a matéria prima da sua obra, enquanto há outros que preferem o embate de opiniões, expondo suas ideias à crítica e ao debate, buscando nas relações as contradições necessárias para a elaboração da obra. São muitos caminhos possíveis. 

Considerando essas múltiplas possibilidades e as diversas subjetividades dos artistas, a palestra buscou, por fim, enfatizar a importância de se compreender o que é um processo criativo e sua importância para a geração de obras mais robustas, profundas e interessantes. Independente de como esse processo se dará, é fundamental que um artista se coloque nele com abertura e energia de descoberta, deixando-se permear pelos estímulos que atravessarão o processo, exercitando-se para o afeto. É um processo de se permitir afetar a si mesmo para potencializar o seu poder de afetar outros. Afinal, quando falamos de arte, não estamos falando de afetos?

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